domingo, 3 de setembro de 2017

Crônica: Quando eu me for...





A vida é marcada por “coincidências” que, muitas vezes, nos surpreendem, a ponto de pensarmos se realmente são “coincidências”.
Na semana passada, publiquei uma crônica que falava sobre a efemeridade do amor (saliento que me referia ao amor passional – e ainda escreverei mais sobre o tema) e da própria vida. Justamente na madrugada de sexta-feira para sábado, uma escritora que eu conhecia, cujos círculos de amizade compartilhávamos, veio a falecer. Embora já com uma certa idade, estava para completar 86 primaveras, permanecia bastante lúcida e ainda escrevia.
Quero chegar a essa idade assim, com a capacidade de continuar rascunhando algumas linhas, mesmo que poucas.
No entanto, o ponto a que quero chegar é outro. Fui despedir-me da ilustre personagem, em sua última morada. Cemitério é um dos lugares mais tristes do mundo, e quando possui dimensões gigantescas, essa tristeza se multiplica. Assim que cheguei, deparei-me com muitos entes literalmente abandonados, túmulos malcuidados, quebrados, que não recebiam sequer uma “alma viva”, pelo visto, há muito tempo.
Realmente muito triste. Claro que devemos nos preocupar mais com os que ainda estão entre nós, e a vida está difícil. Porém, aqueles que outrora estiveram conosco mereciam coisa melhor. Muito embora cultuar os que já se foram não seja o forte de nossa sociedade e da nossa cultura, definitivamente, não quero esse destino para mim.
Quando eu me for – sei que muitos não gostam de falar sobre isso, no entanto, muito narraram e entoaram esse tema em belíssimas obras, transformado em versos por inúmeros poetas, como Mario Quintana, Mário de Andrade e Vinícius de Moraes; o assunto foi, inclusive, eternizado em músicas de Noel Rosa e Nelson Cavaquinho – mas, voltando ao assunto... quando eu me for, quero ser cremada e minhas cinzas devem ser enterradas em um lugar magnífico, repleto de natureza para me fazer companhia. Sobre meus “restos mortais”, plantem uma árvore, para crescer e florescer, deixando meu legado aos que virão. E quando a saudade bater naqueles a quem deixei, poderão me visitar quando o desejarem... e poderão me abraçar, pois a energia fluirá até chegar a mim.
Se mais pessoas fizessem o mesmo, em vez de cemitérios abandonados, teríamos inúmeros parques lindamente arborizados, que perpetuariam a vida, em todos os sentidos, e a memória dos que se foram.



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